domingo, 17 de julho de 2011

Em cima, embaixo, puxa e vai.


Um dos piores sentimentos esportivos que já vivi nestes 23 anos de idade foi não torcer para o Brasil na última Copa do Mundo. Seu jeito avesso as características do futebol brasileiro, capitaneado pela brutalidade do seu treinador me fez perder qualquer tipo de tesão que tinha pela amarelinha. Uma coisa meio "o Brasil não pode ser campeão desse jeito, ficará feio nas futuras verbetes do wikipedia, não é o nosso jeito (por mais caricato que o tal "jeito" possa soar)."

Eis que um ano depois percebo que aquilo foi algo - por sorte - pontual. Neste domingo me vejo triste, puto da vida, com os 4 pênaltis perdidos. Mas, curiosamente a frustação me veio aliada a doses de satisfação. Satisfação de ter ficado nervoso, torcendo pelo Brasil, com o tal tesão resgatado.

Ao mesmo tempo, olho a minha timeline do Twitter e lá está um compêndio gigantesco de mensagens de figuras que sigo, admiro e compartilho vibrando com a derrocada da seleção. Todas apegadas a uma série de argumentos que os elevam a um patamar de superioridade intelectual estranho. Respeito, por virem de quem vêm, mas não concordo.

O principal argumento é o da tal "seleção da CBF". Os 23 convocados não estariam a serviço da pátria, não honram a amarelinha, e seus resultados só servem pra assegurar Ricardo Teixeira em seu trono (como se nos seus 22 anos à frente da confederação o Brasil não tenha passado por nenhuma fase ruim). Pois bem, minha amizade, enxergo nesse papo um reducionismo exagerado.


Aquela matéria na Piauí apenas consolida uma verdade que já era absoluta há um bom tempo: o senhor Teixeira é um dos maiores filhas da puta dessa nação. Junto com o Nuzman estão em um pacote das figuras que mais tenho repúdio nessa vida de deus. Mas, mesmo assim, tento e ando conseguindo separar as coisas. O Grego deteriorou o basquete nacional quando foi presidente da CBB, mas nem por isso eu deixei de torcer pra seleção de basquete - e não me venham com o papo de que basquete é diferente, atrelado a uma certa "pena" pelos jogadores não terem "apoio", afinal o cidadão continuava ditando a ordem e os jogadores baixando a cabeça.

O Coaracy, com sua vaidade e apreço por holofotes, sucateou a natação do Brasil, mas nem por isso não fui gritar na sacada de casa quando o Cielo levou aquele Ouro em Pequim. Você, amigo vascaíno, deixou de torcer pelo seu time quando o Eurico Miranda o comandava?

Como bem disse o Leandro Demori no Twitter, não torcer pro Brasil por causa do Ricardo Teixeira, mas torcer para qualquer outro time/seleção do mundo não faz sentido. Para mim, até beira a hipocrisia. Administradores corruptos existirão em qualquer canto. E não vai ser virando as costas para o patrimônio que eles tem em mãos que você irá mudar algo. Pelo contrário, é se manifestando, denunciando e até apresentando soluções que preservem a entidade que eles podem balançar. Muito mais preocupado em não torcer para o Brasil, por causa do Teixeira, você, minha amizade, deveria é estar com os mandos e desmandos e o tratamento como chefe de estado que ele está tendo com a administração da Copa.

Falando em clube, outro fenômeno recorrente nestes períodos de torneios da seleção é o "po, só torço para o meu time, seleção eu não to nem aí". Nessas horas lembro uma frase que meu pai sempre solta: "o que é que o cú tem a ver com as calças". Uma coisa é não torcer pra seleção porque não gosta do Neymar, do Mano, do Dunga (como foi o meu caso), porque não se identifica com ela, sei lá. Outra é se apegar a algo que nem precisa ser colocado na balança de tão óbvio.

É EVIDENTE que você nunca torcerá pelo Brasil com o afinco que torce pelo seu time. Eu mesmo trocaria qualquer Copa da seleção por um Mundial para o Botafogo. Não há nada mais natural que o ser humano se apegar aos segmentos menores em que se atrela e que estão muito mais próximos do seu cotidiano. Mas uma coisa não exclui a outra.

Outra coisa que me causa um incomodo tremendo nestes períodos em que a seleção está em voga é a ode gratuita a Argentina que muito brasileiro faz. Ela vem de diversas formas. Uns não entendem porque há a rivalidade entre o Brasil e a Argentina, como se esse tipo de coisa precisasse de explicação, ou alguma causa história (uma guerra, um conflito religioso, sei lá). Outros valorizam eles pela sua essência raçuda, não comum ao brasileiro. Meu velho, brasileiro tem que jogar bonito - assim, categoricamente falando. Aqui raça é Sazon pra ocasiões especiais, não é arroz. Marra, habilidade e técnica que alie beleza e objetividade sim. Fomos educados futebolisticamente assim e é isso que podemos e devemos cobrar.

Essa seleção do Mano por exemplo, está sem alma, sem entrega, sem espírito. Mas não atrelo os três pontos a tal raça, mas a não associação entre elas e as características típicas do nosso futebol. Se eu quisesse raça pura e aplicada, que o Dunga ficasse como nosso treinador ad eternum. Ahhh Caju, mas e em 94? O time jogou feio. Pera ae campeão, ali na frente tinha um cidadão que condensava como poucos o que entendemos por futebol brasileiro e isso já, pelo menos para mim, se fazia por suficiente.

Esse apreço gratuito - repito, GRATUITO - que muitos brasileiros tem pela Argentina, soa como um escapismo infantil
oide. Um docontrismo incompreensivo (e olhe que ser do contra é algo que sou autoridade), que me lembra essa geração de brasileiros criados a tv a cabo e Pro Evolution Soccer que crescem com o Chelsea como seu time de coração.

Meu lindo, quer torcer para Argentina? Me arranje um argumento plausível - e existem vários, assim como existem para o Uruguai, seleção que torço sempre quando não enfrenta a amarelinha - mas que, por favor, não utilize nenhum comparativo com o Brasil. Afinal, só para citar um exemplo, eu não vejo nenhuma superioridade no ato de torcer de uma hinchada (as organizadas deles) e não trocaria nenhum "Vou Festejar" que a torcida do Botafogo canta, por um de seus cânticos com a mãozinha levantada. (Curioso que tem muito jornalista que desce a lenha nas organizadas brasileiras, mas chega na Libertadores, e solta aquela "mas que bela festa que faz estes torcedores do Velez Sarsfield, argentino sabe torcer hein?" - sabe mesmo, mas a gente também).

Ahhh, mas você já viu as propagandas que os patrocinadores deles fazem evocando a torcida, são melhores que as brasileiras hein? Caguei. Propaganda não faz gol decisivo nos acréscimos do segundo tempo, após zoação do adversário, com time reserva enfrentando seleção principal.

Ahhh, mas a torcida deles tem gritos muito mais legais, realmente se entregam, são apaixonados. Caguei. Torcida não ganha uma Copa do Mundo roubada, com general mandando mais que treinador.

É evidente que também tenho minha arestas quanto a nossa seleção. Não a trato sem parenteses. Acho a torcida brasileira cada vez mais higienopolizada que enche o estádio pagando caríssimo, um péla saco - as vezes até prefiro que o Brasil continue jogando em Londres. Seu gritinhos de torcida de vôlei (com muito orgulho, com muito amor) fazem vergonha ao potencial criativo de nosso país.

A cobertura tiagoleifertizada cada vez mais infantil e ufanista que a Globo vem dando a seleção - que admito que até achei interessante no início - só corroboram para transformar a amarelinha em um produto sem graça, coxinha. Mas como antídoto, além de trocar de canal e sempre preferir as tvs com o menos volume para torcida, mantenho o lado crítico ligado, tentando sempre dissociar o que os 11 ali em campo fazem na sua função de vida primária -jogar futebol - do resto das coisas (sim, isso ainda é possível, garanto).

Já a raiva pelos momentos "plantação de notícias" que essa geração fotolog da seleção vem tendo, embaladas pelos veículos a serviço da especulação e mercantilização desses jogadores, como o GloboEsporte.com, abstenho com a certeza que é um mal geral, comum a outros países. Um reflexo objetivo do contexto do futebol global que vivemos.

Entre o 8 - do desapego sem embasamento ou por puro modismo, da diminuição pela comparação com a essência de outras seleções alardiadas como sempre "mais puras" que a nossa - e o 80 - do ufanismo barato e exagerado dos tweets de globais, do achar normal que jogos tenham meia entrada a partir de 100 reais, do achar legal a camisa da seleção com a faixa bizarra, de tratar o "Deixa a Vida Me Levar" como hino do time - há uma boa quantidade de dezenas. E é nelas que quero me manter, sem ter a vergonha, ou me sentir inferior por torcer para a seleção do país em que eu tenho orgulho e nem um pouco de arrependimento de ter nascido.